Banquete da Morte

A pedra, a memória e a voz da terra

Na contramão da banalidade que muitas vezes envolve o uso da linguagem poética, o poeta Miguel Júnior entrega, em Banquete da Morte, um soneto denso, preciso e contundente — uma verdadeira evocação da memória ancestral da cidade em que nasceu. Em apenas 14 versos, ele faz vibrar a pedra, a mata e os fantasmas históricos de Itambé, Bahia, fundado na violência e no apagamento.

A violência não é um fato do passado. Ela marca a pele, transborda no presente como legado deixado a mortos e vivos. A crítica do poeta não é dirigida apenas à História, mas à continuidade da injustiça — um Brasil que ainda carrega “pontos em sombras miseráveis”, como bem expressam os versos finais.

Miguel Júnior constrói aqui um poema que honra o rigor clássico ao mesmo tempo em que confronta o leitor com a brutalidade da herança histórica. Banquete da Morte não é um lamento passivo: é uma denúncia poética, uma elegia ativa, uma convocação à memória crítica.

É raro encontrar poesia que seja, ao mesmo tempo, bela, politicamente consciente e esteticamente refinada. Este soneto é tudo isso — e mais: é um documento poético da terra ferida, escrito com sangue e pedra.



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